por ANA LUIZA COELHO | Especial/DC
Quando alemães fundaram Blumenau, em 1850, estranharam a preferência dos índios pelas partes mais altas da região. Os novos habitantes foram morar perto do Rio Itajaí-Açu, área próspera para a agricultura. Dois anos depois, ao sofrerem com a devastação provocada pelas enchentes, os imigrantes entenderam as razões dos indígenas. Uma nova catástrofe aconteceu em 1911.
Mas nenhuma inundação provocou tantos estragos na cidade quanto a de 1983. Imagens e relatos sobre a destruição, dramas, superação e solidariedade devem mexer com a memória e o coração dos espectadores do SC em Cena, a partir do próximo sábado, marcando os 25 anos das maiores enchentes de Santa Catarina.
Reunindo cenas inéditas de resgates, o documentário Enchentes de Blumenau tem roteiro e direção de Diego Lara e Flávio Roberto, da Tac Produções. Gravações históricas foram cedidas pelo Arquivo da RBS TV (maior banco de imagens de televisão de SC) e pelo 23º Batalhão de Infantaria de Blumenau, que trabalhou muito para salvar vidas e socorrer famílias isoladas na região.
Mais de 200 mil pessoas ficaram desabrigadas e quase 70 morreram. Quem sobreviveu hesita em falar sobre as perdas, a fome, o frio, o desespero e a sensação de impotência.
– Lembrar disso me faz sofrer duas vezes – confessou uma senhora que teve a casa arrastada pela água.
Evocar memórias tão dolorosas foi, segundo Diego, o maior desafio da equipe. Avessos ao sensacionalismo, os diretores privilegiaram os depoimentos, mas tiveram a preocupação de não carregar na emoção dos entrevistados.
Flávio conta que, para “equilibrar o tom”, Enchentes de Blumenau começa com linguagem lúdica.
– No início pensamos em usar mais trechos de ficção, mas a força das imagens reais prevaleceu – revela o diretor.
O primeiro episódio, A Fúria das Águas, explica as causas das inundações no Vale do Itajaí, em especial a de 1983, na visão de meteorologistas, autoridades da época e moradores. Todos foram surpreendidos pela intensidade e pela rapidez da devastação em Blumenau e nas cidades vizinhas.
No segundo capítulo, A Força dos Homens, o destaque é para centenas de heróis anônimos: bombeiros, militares, policiais, radioamadores, gente comum que se arriscou para socorrer quem precisava.
Foram muitas demonstrações de solidariedade, do morador que hospedou desconhecidos ao nordestino que enviou donativos para Santa Catarina. O documentário revela ainda que medidas foram tomadas para que a região não seja surpreendida novamente pela força da natureza.